sexta-feira, 18 de setembro de 2009


"...Pertencia àquela espécie de gente que mergulha nas coisas
às vezes sem saber por que,
não sei se na esperança de decifrá-las ou se apenas
pelo prazer de mergulhar…”


(Caio Fernando Abreu)

Estranha sensação.
Descompasso. Desencontro.
Às vezes a pessoa chega na hora errada,

às vezes você chega na hora errada para ela.
Às vezes a pessoa chega, entra na sua vida

e sai sem pedir licença ou dizer adeus.
Às vezes é você quem faz isso e não diz porque.
Às vezes a pessoa entra na sua vida, mexe, balança,

desarruma tudo e depois coloca tudo no lugar,

como que para apagar seus rastros.
Às vezes você chega, desarruma tudo

e tem preguiça de arrumar depois.
Às vezes você chega um ano, um mês ou um dia adiantado.
E a outra pessoa um ano, uma vida atrasada.
E às vezes parece que a pessoa chega.

Mas ela finge chegar. Ela na verdade não quer.
E você fica pensando que ela chegou e quer.
Às vezes você pode não querer.

Não é o tempo, não é a hora, não tá legal. E ela chega.
Então vem a bagunça.
E nesse vai e vem do tempo
Será que vive-se?
Será que encontram-se?
Será que permitem?
Às vezes você procura a pessoa como um espelho

e ela não reflete a sua imagem.
Às vezes você procura refletir a imagem dela

mas não consegue, ela fica fora de foco.
Às vezes a pessoa se perde, envereda por caminhos

que não estão na sua direção.
Às vezes você não se encontra em caminho algum.
E nesse vai e vem de rumo
Será que vive-se?
Será que encontram-se?
Será que permitem?
Será que caminham?
Pode ser, mas como?


Uma taça de champagne
Um CD tocando sempre a mesma música
Crise
Um telefone ao alcance da mão
Um número decorado na cabeça
Uma aflição no coração
É aí que mora o perigo

(Martha Medeiros)

"Não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar..."

(Caio Fernando Abreu)


“O medo sempre me guiou para o que eu quero.

E porque eu quero, temo.

Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou.

O medo me leva ao perigo.

E tudo que eu amo é arriscado”


(Clarice Lispector)